Isabele chegou em casa faminta, e correu para a mesa que estava coberta com uma grande toalha bordada à mão. De longe ela havia observado um grande volume, e a primeira coisa que veio em mente foi "um bolo de chocolate!". Isabele estava suja dos pés à cabeça, pois era seu aniversário, e decidiu passá-lo brincando com as borboletas. No dia do nascimento de Isabele, enquanto sua mãe se distraía com o quê as pessoas falavam sobre a filha, a menina descobriu pela primeira vez o que significava estar viva. A janela estava aberta, e era o primeiro dia de primavera. As flores nasciam feito bolas de neve coloridas, mas bastava um vento um pouco mais bravo, que elas tombavam por entre o jardim e seus arbustos esverdeados. Foi num desses tombos floridos que uma flor em forma de 8 caiu e ganhou vida. Voou até o quarto de Isabele e pousou no seu nariz. Isabele deu o primeiro riso de sua vida. Sua mãe quis matar a borboleta, achando que fosse uma ameaça para a sua pequena donzela. Já o pai disse para deixar, ou caso contrário, compraria uma coleção inteira de borboletas de estimação e soltaria no quarto de Isabele. Os adultos começaram à conversar mais uma vez, e quando sua mãe olhou para ela, a borboleta havia sumido. Mas só um segundo, e onde foi parar?
Mas voltando ao dia em que Isabele fez aniversário e comemorou com as borboletas, ela tirou a toalha da mesa desejando um grande bolo de aniversário. Quanta decepção. Havia apenas um escafandro embrulhado em papel de presente. Isabele colocou o seu presente da cabeça e fechou os olhos. Começou a girar. A casa estava caindo. O chão estava levitando. E Isabele? Isabele não estava.
Algum tempo depois, a menina chegou à um bosque brilhante. Tudo o que ela via eram borboletas. Entravam nos olhos, no nariz, no céu da boca. Mas onde estava Isabele? Seu escafandro pesava um pouco mais leve e colorido naquele momento. "Eu só posso ser uma astronauta ou um mergulhadora do espaço" pensou a menina, desejando cair novamente no planeta do qual saíra.
Depois desse dia, ninguém mais soube como Isabele conseguiu voltar para o seu quarto. Talvez ela nunca tenha saído de lá. Talvez ela nunca tenha estado lá. Mas Isabele teve muita sorte, quando ganhou um escafandro cheio de borboletas. Hoje em dia as pessoas costumam usar escafandros de nada e ficam cegos. Isabele ficou cega, mas ela ficou cega de borboletas.
domingo, 26 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
escute!
Estou vendendo palavras meu caro Dom Casmurro. A avenida está movimentada hoje, não está? Eu acho que os exterrestres desistiram da encomenda que fizeram para hoje ao fim da tarde. Eles haviam me pedido para que lhes vendessem umas mil palavras, tudo de uma só vez, não é curioso? Esses humanos não perdem tempo mesmo, mal ponho os pés para fora de casa e você já está aqui, mendigando palavras. Você acha certo a poesia sair de outros miolos? Sua boca só servirá para o batom final, que no máximo caprichará no sotaque gélido dessas bandas do norte. Não fique aí parado, não olhe para o alto do palaque. Apenas suba, desabotoe os papéis e grite como um louco. Vaze a poesia por aí. Só não se esqueça de tudo que fiz por você, meu caro amigo. Não perca as contas e as pontas, não deixe de pensar que eles estão por aí. Porque você deve saber, senhor de chapéu negro, eu apenas troco as palavras. Eu troco todas as minhas palavras por todos os teus silêncios.
Antes de exister a palavra, não existia o silêncio. E antes de existir o silêncio, só o silêncio existia. Silêncio. Silên. Silê. Si.
Antes de exister a palavra, não existia o silêncio. E antes de existir o silêncio, só o silêncio existia. Silêncio. Silên. Silê. Si.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
o mundo de sabão
Da luneta que havia no meu quarto, eu observava tudo ao meu redor. Do outro lado da rua, bem em frente à minha casa, havia um outro planeta. Ele parecia deserto e habitado por alguem muito sereno. O mais estranho desse planeta, é que vez por outra ele brilhava em tons de verde-azul, vermelho-laranja. Eu ficava caducando em idéias, e logo me deitava no jardim para tentar descobrir o mistério do planeta vizinho. Eu confesso que isso não era uma coisa muito fácil de se pensar.
No dia seguinte lá estava eu novamente, com os olhos na luneta, à olhar para o outro lado da rua. Eu consegui ver, finalmente, movimento nesse tal planeta. Eu a vi, no mesmo instante que eu, espiando o lado de cá do nosso asfalto de estrelas. Ela levou um susto e se escondeu atrás dos arbustos de aquarela que ela havia decorado o quintal. Ficamos alí, observando o mundo do outro. Para mim, era intocável, porém acessivel o mundo da menina. Porém, para ela, o meu mundo era apenas admirável. E de muito longe. Eu realmente devo dizer que ela me agradou no exato momento em que descobriu que não poderia me invadir, nem fazer parte de mim.
O relógio girou algumas centenas de vezes, e eu finalmente descobri. O mundo em que ela vivia poderia ser chamado do que fosse. Poderia nem ter nome, dependendo do tamanho. Ele poderia ser bonito e ter um jardim de papel. Mas ela, com toda a certeza, morava em uma bolha de sabão. Quem sabe ela não assoprou a bolha de sabão quando criança, e foi sugada para dentro da bolha? Talvez ela tenha caído para dentro, e nunca mais conseguiu escapar. Hoje eu apenas observo de longe o mundo da menina. Espero ansioso o dia em que eu possa lhe contar da minha descoberta. Talvez ela nem saiba onde vive, mas eu posso lhe dizer. Eu preciso avisá-la, antes que ela invente de plantar algumas flores na terra. Porque você sabe, não sabe? Quando nós vivemos em uma bolha de sabão, basta um descuido para que a bolha estoure. E para que nosso mundo desabe.
No dia seguinte lá estava eu novamente, com os olhos na luneta, à olhar para o outro lado da rua. Eu consegui ver, finalmente, movimento nesse tal planeta. Eu a vi, no mesmo instante que eu, espiando o lado de cá do nosso asfalto de estrelas. Ela levou um susto e se escondeu atrás dos arbustos de aquarela que ela havia decorado o quintal. Ficamos alí, observando o mundo do outro. Para mim, era intocável, porém acessivel o mundo da menina. Porém, para ela, o meu mundo era apenas admirável. E de muito longe. Eu realmente devo dizer que ela me agradou no exato momento em que descobriu que não poderia me invadir, nem fazer parte de mim.
O relógio girou algumas centenas de vezes, e eu finalmente descobri. O mundo em que ela vivia poderia ser chamado do que fosse. Poderia nem ter nome, dependendo do tamanho. Ele poderia ser bonito e ter um jardim de papel. Mas ela, com toda a certeza, morava em uma bolha de sabão. Quem sabe ela não assoprou a bolha de sabão quando criança, e foi sugada para dentro da bolha? Talvez ela tenha caído para dentro, e nunca mais conseguiu escapar. Hoje eu apenas observo de longe o mundo da menina. Espero ansioso o dia em que eu possa lhe contar da minha descoberta. Talvez ela nem saiba onde vive, mas eu posso lhe dizer. Eu preciso avisá-la, antes que ela invente de plantar algumas flores na terra. Porque você sabe, não sabe? Quando nós vivemos em uma bolha de sabão, basta um descuido para que a bolha estoure. E para que nosso mundo desabe.
e dentro de mim, a guerra
Hoje eu sou o general de mim mesmo. Os soldados estão perfilados ao lado direito do meu peito, um por um, dente por dente, olho por olho. Do outro lado do campo estão os adversários, que são meus mais fortes aliados ao mesmo tempo. Estou lutando comigo mesmo, isso acontece todo o tempo. Não sei exatamente qual é o motivo de todo esse tiroteio de mentira. Poderia inventar um motivo qualquer, mas uma guerra nunca tem um motivo. Cada soldado luta por um ideal próprio. Vê este correndo como um louco em circulos? Ele luta para morrer, quer apenas encontrar um bom motivo para não existir. Ele clama por um tiro no peito, pode ser um tiro de misericórdia, eu juro que ele não ficará triste por isso. E agora vê este que está pulando à beira do precipício? Esse quer apenas lutar contra a guerra. Ele pensa que guerrear contra a própria guerra não é fazê-la. Você consegue perdoa-lo por isso? O que eu quero dizer, é que cada pedaço de mim luta para sobreviver, porque no fundo todos nós estamos lutando para sobreviver o tempo inteiro. Estou lutando contra mim mesmo, quero perder e ganhar, chorar e sorrir, viver e morrer, e tudo ao mesmo tempo. Dentro de mim a guerra continua. Quero ser e não ser ao mesmo tempo. Eu devo ser blindado por dentro, caso contrário estaria completamente esburacado. E a blinadagem é tão forte, que ninguém consegue entrar dentro de mim. Pelo menos hoje a guerra continuará firme e forte, dentro de mim.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
sobre o ponto de interrogação
A invenção mais inteligente que um ser humano já fez foi o ponto de interrogação.
sobre as perguntas
Não importa quão sábia e complexa seja a resposta, uma pergunta vale muito mais do quê uma resposta.
só se for a dois
A música começa lentamente, o piano vai se abrindo pelo jardim inteiro. Venta bastante, olhando de cima e atentamente. Ninguém costuma colocar as roupas para secar no varal quando está ventando muito. As pessoas vivem com medo de que as roupas voem para muito longe, e que nunca mais as encontrem. Eu estava, especialmente nesse dia, abandonado na janela de casa. Também estava velho e rasgado por dentro. A música começa à estourar pelo ar e lentamente vai me abrindo pelo jardim ao meio. Passa na minha frente um outro ser, era uma sapatilha. Ela parecia uma bailarina flutuando pelas beiradas do quintal. Eu olhava para ela triste. Mais uma vez o vento sacodiu a casa e levantou a doce sapatilha em voo alto. Foi subindo, subindo, e caiu encima do varal, presa pelo cadarço. Nessa hora a menininha que usava a sapatilha para levitar em pleno ballet apareceu, e me salvou a vida. Olhou para mim e depois para a sapatilha. Correu em minha direção tropeçando nos próprios passos e me agarrou firme em suas mãos. Parou por alguns segundo e disse: "Você está com uma carinha muito triste, vou lhe apresentar para minha doce sapatilha". Me carregou nas mãos até o varal solitário e me amarrou junto à sapatilha. Eu fiquei alí, olhando para ela sorrindo como uma princesa. A música agora já fazia parte de nós dois, e apenas se for à dois. Ainda estamos lá. O vento se foi, voltou, voou e o sol abriu. O tempo passou e os livros fecharam. E ainda estamos lá. Quando dois seres se encontram é díficil de separar, principalmente quando estão abraçados em braços de cadarço.
Eu amo uma sapatilha, a princesa do meu jardim.
Eu amo uma sapatilha, a princesa do meu jardim.
sem sentido
É difícil de acreditar, mas eu sou de um planeta perdido no espaço. É um planeta sem nome, confesso, mas não deixa de ser importante para o universo. Eu vivia sozinho, pensando em como os outros pontos luminosos ao meu redor podiam gerar tanta luz. Havia um planeta que parecia azul, mas metade do tempo ele estava claro e bonito, e na outra metade ele reluzia falso e por obrigação. Se é que um planeta pode ter um dono para lhe obrigar à algo. Isso me intrigara profundamente, e certo dia eu decidi que tropeçaria de propósito rumo ao tal planeta desconhecido. Ao acordar, mergulhei no espaço feito astronauta curioso. Naveguei por dias e dias até que tombei em um quintal. Eu tive a certeza de que era esse o planeta em que eu queria habitar, ele é mágico, triste e um ponto de interrogação gigante dentro de mim. Eu estava de cabeça para baixo, pendurado pelos pés em um varal. Fiquei alí por horas e horas, até vir alguém e me dizer: "você está de cabeça para baixo". Isso é um tanto engraçado, como se pode saber se alguém está de cabeça para baixo ou para cima? Eu só mergulhei no espaço, as coisas não fazem sentido.
o espetáculo vida
Abram-se as cortinas. Venham. Venham. O espetáculo está para começar. Encontre uma poltrona vazia e sente-se. O maior espetáculo de todos está bem alí, na nossa frente. Atrás dessa cortina os personagens respiram fundo antes de entrar em cena. E fechem-se as portas. Silêncio. Até os passos mais sutis podem incomodar a platéia. Cena 1: Lá estou eu, andando pelos holofotes e de meias brancas, esperando o fim desse teatro mágico. Tropeço e o som do acordeon vai ficando mais alto até que me deixa completamente surdo. Ver é fácil quando se tem olhos fechados. Fecho os olhos. Do meu lado passeiam pessoas em passos de valsa. Apertem os cintos, estamos prestes à decolar. Entre capitão, grite para nossos tripulantes. Olho para o meu lado esquerdo, e vejo direito todas as frases que ele perdeu pelo caminho. "Rumo à lua num tapete voador" - Gritou o senhor capitão, de farda azul espacial. O foguete desaba em pleno cenário e desmonta feito relógio, que tic-tac-tic-tac. O despertador anuncia o fim do espetáculo. Cena 2: Eu estou sentado no topo do universo, e observo todas as cenas. Personagens atrás de máscaras e cortinas. Abram-se os sorrisos. É hora de anunciar para toda a platéia deste mundo que não existe diretor. O teatro é mágico e livre até que as cortinas se fechem novamente.
Fecham-se as cortinas...
Fecham-se as cortinas...
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
sobre os nomes
O que existe dentro dos nomes? E se eu me chamasse Jorge, eu não seria quem eu sou hoje?
Nota: Um dia eu vou ter um filho sem nome, para ver se faz alguma diferença. Talvez faça, porque quase sempre o silêncio diz muito mais do que palavras.
Nota: Um dia eu vou ter um filho sem nome, para ver se faz alguma diferença. Talvez faça, porque quase sempre o silêncio diz muito mais do que palavras.
sobre o espermatozóide
Será que os outros espermatozóides vão para outros planetas quando não conseguem chegar à terra? Será que é realmente uma sorte, como dizem as pessoas, termos chegado ao nosso planeta? Quando me dizem que sou um vencedor, é impossivel não pensar que o planeta terra pode ser a última posição dentro do universo.
sobre as mentiras
Porque no dia em que eu vi uma rosa branca decorar os cabelos de mamãe, eu me decepcionei tanto, que tive certeza que dalí em diante as pessoas começariam à mentir para mim.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
sobre o extraterrestre
Será que há séculos atrás, quando não havia espelho, a primeira pessoa que descobriu seu próprio reflexo na água se assustou com a figura tão esquisita desse ser estranho chamado humano?
sobre a idéia
E tudo que eu não disse poderia se tornar um livro muito mais bonito do que tudo que eu consegui dizer.
os postes de mãos dadas
Os pássaros que vinham do sul pararam para descansar em alguns fios entre dois postes de luz. Quem olhasse veria apenas mais um bando corajoso, arriscando sua livre vida de passarinho, para descansar as asas depois de um dia inteiro atravessando o céu. Eu, quando voltava para casa, vi uma menina sentada no quarto degrau de uma velha escadaria da cidade. Ela mantinha os olhos fixos e brilhantes na direção das aves. No começo até pensei que ela estivesse se divertindo com as nuvens e inventando formas para cada uma. Mas o céu estava completamente azul. Não havia uma nuvem sequer naquela tarde. Intrigado, sentei ao lado da moça e perguntei para o quê ela estava olhando com tanta atenção. Olhou para mim, séria, e me fez um sinal para que eu ficasse em silêncio. Olhou novamente para os bichos e tornou a olhar para mim dizendo:
- Você está vendo aqueles dois postes de mãos dadas?
- Sim.
- Olhe os passarinhos que estão descansando nos braços deles.
- São muito bonitos.
- Agora olhe com poesia. Não diga nada. Só ouça. E perceba.
Fiquei alguns minutos olhando fixamente para o bando e comecei a ouvir uma linda melodia. Parecia com a flauta mágica de mozart, mas era um pouco mais suave e alegre. Um pouco depois os passarinhos começaram a se juntar. Começaram a formar um desenho. Eu não sabia de onde a música estava vindo. Até que o desenho se formou por completo. Descobri então de onde a melodia brotava com tanta perfeição. Olhei para a menina, que continuava com os olhos brilhantes, e perguntei o motivo de tudo aquilo que eu acabara de ver. E ela, abaixando um pouco o rosto, disse no meu ouvido:
- Basta ver as coisas com poesia. E só.
Para você que não tem coragem para tanto, observe o desenho e tente ver as coisas com outros olhos. Ou com os mesmo, mas com um pouco de poesia.
- Você está vendo aqueles dois postes de mãos dadas?
- Sim.
- Olhe os passarinhos que estão descansando nos braços deles.
- São muito bonitos.
- Agora olhe com poesia. Não diga nada. Só ouça. E perceba.
Fiquei alguns minutos olhando fixamente para o bando e comecei a ouvir uma linda melodia. Parecia com a flauta mágica de mozart, mas era um pouco mais suave e alegre. Um pouco depois os passarinhos começaram a se juntar. Começaram a formar um desenho. Eu não sabia de onde a música estava vindo. Até que o desenho se formou por completo. Descobri então de onde a melodia brotava com tanta perfeição. Olhei para a menina, que continuava com os olhos brilhantes, e perguntei o motivo de tudo aquilo que eu acabara de ver. E ela, abaixando um pouco o rosto, disse no meu ouvido:
- Basta ver as coisas com poesia. E só.
Para você que não tem coragem para tanto, observe o desenho e tente ver as coisas com outros olhos. Ou com os mesmo, mas com um pouco de poesia.
excursão para marte
Todos os dias, ao escurecer, ele ia até o céu e plugava as estrelas na tomada. Elas iam aos poucos brilhando, até iluminarem todo o espaço. Esse era o seu trabalho. Todos os dias, na mesma hora, ele deveria estar lá para ligá-las.
Um dia, o menino que ligava as estrelas, olhou lá de cima e viu a terra brilhando mais do que deveria. Ele ficou muito triste. Tão triste, que parou de ligar as estrelas para o planeta terra. Ele continua o seu trabalho para os outros planetas, é claro. Afinal, eles continuam regados apenas à luz do sol. Enquanto os seres terrestres teimarem em disputar com o espaço para ver quem brilha mais, ficaremos sem ver as estrelas.
Nota: Se você mora em Paris e pensa que não pode ver as estrelas por conta da iluminação absurda, está com toda a razão.
Um dia, o menino que ligava as estrelas, olhou lá de cima e viu a terra brilhando mais do que deveria. Ele ficou muito triste. Tão triste, que parou de ligar as estrelas para o planeta terra. Ele continua o seu trabalho para os outros planetas, é claro. Afinal, eles continuam regados apenas à luz do sol. Enquanto os seres terrestres teimarem em disputar com o espaço para ver quem brilha mais, ficaremos sem ver as estrelas.
Nota: Se você mora em Paris e pensa que não pode ver as estrelas por conta da iluminação absurda, está com toda a razão.
despedida
Depois de um longo tempo isolado da parte humana do mundo. Convivendo diariamente com o sol em demasia, me fazendo adoecer em meio ao calor. Com os trovões que me acordavam assustado na claridade da noite. Com o entardecer infinito do céu, que me fazia ultrapassar as barreiras de apenas mais um planeta e carregá-lo em mãos. E, principalmente, tendo de conviver comigo mesmo. Sem pausas. Sem escape. E completamente entregue à minha própria companhia. Tenho, hoje, que voltar ao contato carnal. Olhos nos olhos. E eu, como sempre fui mestre, modestia à parte, tenho que me alojar dentro de mim. Ficar um tanto longe do seres humanos. Inclusive do meu ser humano. E observar de longe, cada folha que insiste em se agarrar na arvore que balança com o vento. E cada parte da arvore que floresce coloridas margaridas, que ao contrário das rosas, rosas, brotam amarelas.
Deveria estar aliviado por finalmente voltar à minha não-rotina. Por viver dia após dia. E mesmo que não me agrade, fazer parte. Mas novamente está em meus olhos o medo do que virá. Estou imóvel, e incerto não consigo adormecer. Estou insone, e disposto começo a morrer. Se lhe serve de consolo, começamos a morrer quando nascemos.
Se eu descobrir um dia o que acontecerá comigo, eu posso inventar um bilhete descrevendo tudo com detalhes. Por hoje, me deixe morrer mais um pouco.
Deveria estar aliviado por finalmente voltar à minha não-rotina. Por viver dia após dia. E mesmo que não me agrade, fazer parte. Mas novamente está em meus olhos o medo do que virá. Estou imóvel, e incerto não consigo adormecer. Estou insone, e disposto começo a morrer. Se lhe serve de consolo, começamos a morrer quando nascemos.
Se eu descobrir um dia o que acontecerá comigo, eu posso inventar um bilhete descrevendo tudo com detalhes. Por hoje, me deixe morrer mais um pouco.
das sombras
As pessoas conseguem enganar os outros seres que habitam esse planeta, quando eles estão distraídos. Eu quero ver essas mesmas pessoas enganarem suas própria sombras, distraídas ou não.
a bailarina e o soldado de chumbo
E sabe mais? A ordem cósmica do mundo pretende me triturar em pedaços. Eu, provavelmente, fui um assassino em série em vidas passadas. Gostava de cheiro de morte. Do vazio. Do grito. Nessa vida, pretendo cortar-me em pedaços para me devolver em paz. A terra não aceitaria que um ser tão ruim tornasse parte dela novamente, e se misturasse sem cor. De modo que os dois seriam um, e nunca haviam sido um só elemento, pois sempre foram o mesmo. Passo horas do meu dia à esperar. Não sei bem se a morte seria minha caravana natural. As vezes creio que um disco-voador virá me buscar. Me levará fumegante até o silêncioso planeta de que pertenço. Talvez esse planeta nem exista. Talvez eu nem exista. E você? Você existe? A força universal que hoje me rachou as idéias boas, poderá amanhã se dissolver no ar. E com o mesmo ar trazer novamente para mim tudo o que eu costruí para nós: a bailarina e o soldado de chumbo.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
do país das maravilhas
Na verdade, Alice vivia em outro mundo. Ao vir para o nosso, o chamou de "país das maravilhas". Se você, como tantos, pensa ser o contrário, está muito enganado. Basta ter um pouco de imaginação e pronto, estará nele. Será: "você no país das maravilhas".
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Abra a cortina quando amanhecer. Uma estrela muito grande estará lá. Serei eu. Embaixo de um bilhete, na mesa da cozinha vou deixar uma rosa. Ela não vai morrer enquanto eu estiver te olhando. Ou seja, ela não vai morrer. No bilhete estará escrito que eu te amo. A folha estará em branco, é claro. Mas você vai ter certeza de tudo que eu escreverei em silêncio. Você não vai ter medo de tomar uma decisão. Talvez arrume as malas e fuja, mas caso tudo dê errado, olhará para mim e me verá mais brilhante e maior do que nunca. Eu vou dizer que as coisas sempre vão estar melhor, porque a rosa, a rosa que eu guardei com tanto carinho era você. E uma estrela nunca esquece uma rosa. Uma estrela sempre explode de tanto amor por uma rosa.
Texto dedicado à Nicole!
Ler ouvindo:
Carla Bruni - Quelqu'un m'a dit
terça-feira, 19 de outubro de 2010
sobre os poetas
Há coisas que
Só os poetas entendem.
Ser extremamente triste e feliz,
Ao mesmo tempo,
É uma delas.
Só os poetas entendem.
Ser extremamente triste e feliz,
Ao mesmo tempo,
É uma delas.
sobre os poetas II
Todas as pessoas são bonitas para dentro. Mas apenas os que exprimem o paraíso interior tornam-se poetas.
sobre os pingos de sol
Cai neste passado instante a chuva como luva
A hora certa com a incerteza de um dia não estar
A nuvem, torta, faz com que a chuva tropece
Se não tropeçasse, não caíria
E portanto não me faria molhar
Nem ao tempo, que atreve voltar
Nem ao vento, que jamais molhará
Quando o tombo é feio, lhe saem raios
Eles viram tempestades ao inverso
E tudo menos um copo d'água
Tudo ao meio no corpo d'alma
A dama que ama sua arvore de estimação
Como todos os dias lhe enche
Um pouco com cada raio de sol
Se o sol tropeçasse, como a chuva
Teriamos pingos de sol
No lugar dos pingos de chuva
E não raios de sol
A hora certa com a incerteza de um dia não estar
A nuvem, torta, faz com que a chuva tropece
Se não tropeçasse, não caíria
E portanto não me faria molhar
Nem ao tempo, que atreve voltar
Nem ao vento, que jamais molhará
Quando o tombo é feio, lhe saem raios
Eles viram tempestades ao inverso
E tudo menos um copo d'água
Tudo ao meio no corpo d'alma
A dama que ama sua arvore de estimação
Como todos os dias lhe enche
Um pouco com cada raio de sol
Se o sol tropeçasse, como a chuva
Teriamos pingos de sol
No lugar dos pingos de chuva
E não raios de sol
sobre o sol
Se a chuva pode apagar o sol que eu fiz na calçada, porque não consegue apagar o sol que fizeram no céu?
sobre o filme mudo
Os filmes mudos nasceram para provar que, por mais que não se fale, a trilha sonora sempre fará parte.
sobre o escritor
Porque escrevo? Para não me afogar. Sou uma torneira aberta de palavras. Preciso escrever, esvaziar. Caso contrário, me afogo.
sobre o erro
O mundo é feito de erros. Eu sou um dos maiores. Não há quem desvende. Meu mistério é quase impossivel. É quase invisivel. E nem sequer existe. Sou somente mistério, e erro.
Se sou realmente um erro tão grande, deveria eu não ter nascido ou só sou um erro por tê-lo feito?
Se sou realmente um erro tão grande, deveria eu não ter nascido ou só sou um erro por tê-lo feito?
sobre o entendimento
Não, eu não me entendo.
E as vezes eu não me entendo tanto,
Que sou quem mais pode me compreender.
E as vezes eu não me entendo tanto,
Que sou quem mais pode me compreender.
sobre o barco à vela
O barco à vela se engana
se pensa ele
que pode iluminar o mar
quando está escuro.
se pensa ele
que pode iluminar o mar
quando está escuro.
sobre as cartas
Se um dia as cartas ficarem tristes
com tantos e-mails que existem, e sumirem,
como mandaremos nosso cheirinho no papel?
com tantos e-mails que existem, e sumirem,
como mandaremos nosso cheirinho no papel?
sobre as caretas
Porque o boi-da-cara-preta insiste em pegar a menina que tem medo de careta, se é ela que o faz existir?
sobre a vida
Vivo para descobrir de tudo
Das cores às flores de lápis
Da música ao silêncio das frases
E para descobrir o mundo
Para descobrir e ser, ser vivo
Descobrir então a vida
O mistério maior
A dúvida
E não entendem
Que sou eu, solúvel
Uma verdadeira metamorfose
Em busca da contradição
E de não saber
Não entendem
Pois têm medo eles
Do que é novo
Do que não existe
Eles vivem do medo
O medo da imaginação
E buscam em mim a resposta
Que não existe na vida: resposta.
Das cores às flores de lápis
Da música ao silêncio das frases
E para descobrir o mundo
Para descobrir e ser, ser vivo
Descobrir então a vida
O mistério maior
A dúvida
E não entendem
Que sou eu, solúvel
Uma verdadeira metamorfose
Em busca da contradição
E de não saber
Não entendem
Pois têm medo eles
Do que é novo
Do que não existe
Eles vivem do medo
O medo da imaginação
E buscam em mim a resposta
Que não existe na vida: resposta.
sobre a sensação
Tentam fotografar o mundo com uma máquina.
Como se fosse possível,
Uma lente,
Guardar mais do que uma sensação.
Como se fosse possível,
Uma lente,
Guardar mais do que uma sensação.
sobre a partida
Todas as partidas
São diferentes por inteiro.
O que faz chamar-se partida?
A vontade de voltar.
São diferentes por inteiro.
O que faz chamar-se partida?
A vontade de voltar.
sobre a novidade
Teria sentido se tudo,
Começasse pelo fim?
E se por acaso
O mundo,
Coubesse no jardim?
Teria fim,
E mesmo assim,
Teria graça?
Começasse pelo fim?
E se por acaso
O mundo,
Coubesse no jardim?
Teria fim,
E mesmo assim,
Teria graça?
sobre a morte
Um homem só teme a morte quando ainda não conseguiu aproveitar as mais belas coisas da vida.
um diálogo transparente
Hoje eu andei por toda parte, em busca de uma àrvore realmente convidativa. Por todas que passei eu me sentia vigiado. Continuei andando em busca de uma arvore que me recebesse de galhos abertos. Quase no fim de um caminho sem rumo encontrei uma arvore em um dia muito triste, provavelmente. Ela estava brotando do céu, e voltava em voltas para a terra. Dela brotavam musicas em tons maiores e menores, dependendo de quem estivesse ouvindo. Eu parei, e me sentei embaixo dela. Aos poucos fui soltando umas palavras em silêncio. Ela apenas me olhava. Tirei do fundo da minha cartola um baralho, nele haviam muitas cartas desenhadas. Tirei do monte quase invisivel um pedaço de papel. Fui dobrando e desdobrando até fazer-se um chapéu, tão charmoso quanto nossa conversa silênciosa. Ela sorriu, com um sorriso que só uma arvore pode dar. Foi quando então, me senti realmente perto para poder abraça-la. Me levantei e sem olhar para tras, fui embora como se não fosse mais voltar. Quando a noite nasceu, me fiz andar até o tal jardim em que a arvore brotava. Eu fui em passos leves, na ponta dos pés, até os seus olhos que dormiam e pendurei um par de estrelas nos seus cilios. Fui embora para sempre, dessa vez, tendo certeza que todas as vezes em que a arvore visse uma estrela, o sol ou um pedaço de papel, lembraria de mim e ficaria feliz. Logo, ela seria feliz para sempre.
roupa de retalhos
Me tire um pedaço de pano dos olhos
Me costure no peito palavras
Retalhos...
Então tire uma linha, ponto ou interrogação
Tire duas vidas, e costure um botão
Quando a agulha furar uma nuvem
Olhe denovo e me tire o silêncio
Me vista com retalhos, denovo
E antes que espante o frio
Olhe para a roupa
Como se cobrisse o coração
Me costure no peito palavras
Retalhos...
Então tire uma linha, ponto ou interrogação
Tire duas vidas, e costure um botão
Quando a agulha furar uma nuvem
Olhe denovo e me tire o silêncio
Me vista com retalhos, denovo
E antes que espante o frio
Olhe para a roupa
Como se cobrisse o coração
por acaso, um poema
Eu era da vida um pedaço
Um traço de coisa qualquer
Virasse talvez uma casa
Ou a arvore que já descansei
Me juntaria em muitas mais cores
Na aquarela das mãos do pintor
Em nuances de ser menininha
Ou em ser mais adiante um ator
E pregado na velha parede
Um teatro com peças, papeis
Um brotinho nascido do vento
No momento que éis o meu rei
Entretando então nessa vida
Eu brotei de um poema sem fim
Como flor que voando ao vento
Por acaso, que então, eu nasci
Um traço de coisa qualquer
Virasse talvez uma casa
Ou a arvore que já descansei
Me juntaria em muitas mais cores
Na aquarela das mãos do pintor
Em nuances de ser menininha
Ou em ser mais adiante um ator
E pregado na velha parede
Um teatro com peças, papeis
Um brotinho nascido do vento
No momento que éis o meu rei
Entretando então nessa vida
Eu brotei de um poema sem fim
Como flor que voando ao vento
Por acaso, que então, eu nasci
poema de número I
Eu nasci de um poema
Que no mundo se perdeu
Onde olho posso vê-lo
Mas é ele ou sou eu?
Que no mundo se perdeu
Onde olho posso vê-lo
Mas é ele ou sou eu?
os postes de mãos dadas
Os pássaros que vinham do sul pararam para descansar em alguns fios entre dois postes de luz. Quem olhasse veria apenas mais um bando corajoso, arriscando sua livre vida de passarinho, para descansar as asas depois de um dia inteiro atravessando o céu. Eu, quando voltava para casa, vi uma menina sentada no quarto degrau de uma velha escadaria da cidade. Ela mantiva os olhos fixos e brilhantes na direção das aves. No começo até pensei que ela estivesse se divertindo com as nuvens e inventando formas para cada uma. Mas o céu estava completamente azul. Não havia uma nuvem sequer naquela tarde. Intrigado, sentei ao lado da moça e perguntei para o quê ela estava olhando com tanta atenção. Olhou para mim, séria, e me fez um sinal para que eu ficasse em silêncio. Olhou novamente para os bichos e tornou a olhar para mim dizendo:
- Você está vendo aqueles dois postes de mãos dadas?
- Sim.
- Olhe os passarinhos que estão descansando nos braços deles.
- São muito bonitos.
- Agora olhe com poesia. Não diga nada. Só ouça. E perceba.
Fiquei alguns minutos olhando fixamente para o bando e comecei a ouvir uma linda melodia. Parecia com a flauta mágica de mozart, mas era um pouco mais suave e alegre. Um pouco depois os passarinhos começaram a se juntar. Começaram a formar um desenho. Eu não sabia de onde a música estava vindo. Até que o desenho se formou por completo. Descobri então de onde a melodia brotava com tanta perfeição. Olhei para a menina, que continuava com os olhos brilhantes, e perguntei o motivo de tudo aquilo que eu acabara de ver. E ela, abaixando um pouco o rosto, disse no meu ouvido:
- Basta ver as coisas com poesia. E só.
Para você que não tem coragem para tanto, observe o desenho e tente ver as coisas com outros olhos. Ou com os mesmo, mas com um pouco de poesia.
- Você está vendo aqueles dois postes de mãos dadas?
- Sim.
- Olhe os passarinhos que estão descansando nos braços deles.
- São muito bonitos.
- Agora olhe com poesia. Não diga nada. Só ouça. E perceba.
Fiquei alguns minutos olhando fixamente para o bando e comecei a ouvir uma linda melodia. Parecia com a flauta mágica de mozart, mas era um pouco mais suave e alegre. Um pouco depois os passarinhos começaram a se juntar. Começaram a formar um desenho. Eu não sabia de onde a música estava vindo. Até que o desenho se formou por completo. Descobri então de onde a melodia brotava com tanta perfeição. Olhei para a menina, que continuava com os olhos brilhantes, e perguntei o motivo de tudo aquilo que eu acabara de ver. E ela, abaixando um pouco o rosto, disse no meu ouvido:
- Basta ver as coisas com poesia. E só.
Para você que não tem coragem para tanto, observe o desenho e tente ver as coisas com outros olhos. Ou com os mesmo, mas com um pouco de poesia.
observação
Acho que todos os seres que vivem deveriam escrever. Faça o que quiser com a escrita. Use-a como escudo, esconderijo, fuga, obrigação, consolo. Ou o que for. E dizer que não sabe escrever ou que não tem vocação para isso é a maior bobagem que existe. Escreva sem medo. Seja poético ou seja simples. Ou seja poético e simples. Mas escreva. Se ainda assim não se convencer com o que eu lhe digo, acredite em Clarice Lispector sobre uma personagem e um livro:
"É dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lhe a vida."
"É dever meu, nem que seja de pouca arte, o de revelar-lhe a vida."
o velho poeta
Era fim de tarde quando resolvi me juntar em pedaços e ir até o lugar mais alto da cidade. De lá se via o pôr-do-sol como se ele estivesse brotando pelos olhos. Olhava para os lados assustado. Afinal, só se via dali um unico sinal de vida humana: um pequeno chalé. Fui me aproximando enquanto o sol me refletia alaranjado e, com o medo nas mãos, bati na porta. Havia um recado pendurado no portão, que dizia: "Ser é ousar ser". Eu tive certeza de que aquele recado era para mim, e para todos os outros seres desse planeta, é claro. Um velho senhor abriu a porta.
- Você é? - Disse ele.
- Sim, eu sou.
- Existir é fácil, meu jovem, existir é fácil! - Me disse o velho, abrindo caminho para a sua casa.
Naquele momento eu não tive certeza se eu realmente vivia, ao contrário da maioria dos habitantes desse mistério suspenso ao ar, que apenas existem. Andei como se o chão estivesse flutuando sob meus pés. Ele puxou uma cadeira e disse para eu me acomodar. Sentei e ele disse.
- Eu tinha certeza de que eu não era o unico poeta dessa região.
- O que o senhor quer dizer com isso?
- Quero dizer o simples meu caro, ninguém mais além de um poeta se importaria tanto em ver um pôr-do-sol à ponto de subir ao lugar mais alto e isolado da cidade só para vê-lo.
Me afundei em pensamentos naquele exato momento e pude realmente concordar com o tal senhor de barbas brancas. De todos os humanos que eu tinha contato, nenhum deles olhava para o céu, nem mesmo quando o sol estava se deitando sobre o nosso gigante mapa-mundi.
- Por acaso o senhor é poeta? - Perguntei intrigado.
- Sim, eu já lhe disse. - Respondeu ele.
- O que faz de uma pessoa um poeta?
- Escrever e observar coisas que ninguém mais observa.
- O quê, por exemplo?
- Quando um menino abraça sua grande amiga ou quando eles se deitam na grama e ficam olhando para o céu em silêncio por horas e horas.
- Obrigado! - Disse eu, apressado.
- Não tem de quê, meu jovem. - Respondeu o velho poeta.
Dei adeus à ele com toda a pressa do mundo e saí correndo para casa. Abri a porta do meu quarto com tanta vontade que fiz um barulho ensurdecedor. Comecei então à arrancar de mim palavras. Aos poucos fui escrevendo-as nas paredes. Me fiz poeta e poesia para o mundo, tudo ao mesmo tempo. Quando percebi eu já estava navegando em meu proprio choro. Estava chovendo cores e chorando palavras, enquanto o mundo girava no meu olhar.
- Você é? - Disse ele.
- Sim, eu sou.
- Existir é fácil, meu jovem, existir é fácil! - Me disse o velho, abrindo caminho para a sua casa.
Naquele momento eu não tive certeza se eu realmente vivia, ao contrário da maioria dos habitantes desse mistério suspenso ao ar, que apenas existem. Andei como se o chão estivesse flutuando sob meus pés. Ele puxou uma cadeira e disse para eu me acomodar. Sentei e ele disse.
- Eu tinha certeza de que eu não era o unico poeta dessa região.
- O que o senhor quer dizer com isso?
- Quero dizer o simples meu caro, ninguém mais além de um poeta se importaria tanto em ver um pôr-do-sol à ponto de subir ao lugar mais alto e isolado da cidade só para vê-lo.
Me afundei em pensamentos naquele exato momento e pude realmente concordar com o tal senhor de barbas brancas. De todos os humanos que eu tinha contato, nenhum deles olhava para o céu, nem mesmo quando o sol estava se deitando sobre o nosso gigante mapa-mundi.
- Por acaso o senhor é poeta? - Perguntei intrigado.
- Sim, eu já lhe disse. - Respondeu ele.
- O que faz de uma pessoa um poeta?
- Escrever e observar coisas que ninguém mais observa.
- O quê, por exemplo?
- Quando um menino abraça sua grande amiga ou quando eles se deitam na grama e ficam olhando para o céu em silêncio por horas e horas.
- Obrigado! - Disse eu, apressado.
- Não tem de quê, meu jovem. - Respondeu o velho poeta.
Dei adeus à ele com toda a pressa do mundo e saí correndo para casa. Abri a porta do meu quarto com tanta vontade que fiz um barulho ensurdecedor. Comecei então à arrancar de mim palavras. Aos poucos fui escrevendo-as nas paredes. Me fiz poeta e poesia para o mundo, tudo ao mesmo tempo. Quando percebi eu já estava navegando em meu proprio choro. Estava chovendo cores e chorando palavras, enquanto o mundo girava no meu olhar.
o tombo
Vejo o mundo do lugar mais alto
É como um salto em queda livre
Passo os olhos pela terra e vejo
De tudo eu vejo a vida
Os milhões de seres com sensações
Com pensamentos, alegria
Tentam descobrir aonde estão
E vão...
Sem ter porque, para onde
Viajam por horas e horas diárias
E no diário guardam o segredo mais curto
Esquecem que vivem, esquecem do mundo
Esquecem que elas têm segredos
Viajam até o centro da terra
E velejam como barcos de papel
Basta um sopro, para navegar
E outro sopro, para sumir
É como um salto em queda livre
Passo os olhos pela terra e vejo
De tudo eu vejo a vida
Os milhões de seres com sensações
Com pensamentos, alegria
Tentam descobrir aonde estão
E vão...
Sem ter porque, para onde
Viajam por horas e horas diárias
E no diário guardam o segredo mais curto
Esquecem que vivem, esquecem do mundo
Esquecem que elas têm segredos
Viajam até o centro da terra
E velejam como barcos de papel
Basta um sopro, para navegar
E outro sopro, para sumir
o som do coração
Já escurecia quando eu decidi compor uma canção. Peguei o papel e a caneta e comecei os rabiscos. A música não queria sair. Teimava em ficar dentro de mim. Eu naveguei dentro de mim por muito tempo tentando traze-la ao mundo. É um pouco dificil, eu confesso, mas é a melhor forma de expressar um coração. Ela demorou, mas saiu, como eu bem queria fazer. Larguei o papel, a caneta e minha nova música composta. Fui até a rua, olhei para o céu e, como quem está prestes à partir, dei um suspiro consolador.
Voltei ao meu posto, em prastos, e quis ouvir pela primeira vez aquela canção tão complicada de ser colocada ao mundo. Não sei se crio minhas músicas. Talvez seja muita pretensão dizer isso. Elas já saem prontas de dentro de mim. E se eu apenas fizesse uma canção de punho próprio seria tão fácil e tão artificial. É por isso que não ouso modificar o que eu arranco de dentro de mim. Tenho certeza, assim, que elas irão aos ouvidos para as quais foram feitas. E não importa se eu sofro para arrancá-la de mim e caio em lágrimas. Ou se fico horas tentando trazê-la à vida. O que importa é que elas saem como são, e não como inventam.
Se um dia, por acaso, eu não tiver letras o suficiente para tirá-las de mim, guardarei à sete chaves cada verso quase pronto. Colocarei no bolso o papel e as palavras. E um dia, caso elas queiram sair, não saírão pela minha boca, e sim pelo meu coração.
Nota: Quando você, leitor, estiver ouvindo uma canção feita com o coração, não pense que foi completamente simples e fácil colocá-la ali, para ser ouvida. É um processo díficil e sincero. Um processo incrível. Mas não confunda com as pessoas que fazem música para ganhar dinheiro e criam versos falsos. Essas músicas são fáceis e não lhes roubam nenhuma lágrima sequer. Logo, não existe música dentro deles.
Voltei ao meu posto, em prastos, e quis ouvir pela primeira vez aquela canção tão complicada de ser colocada ao mundo. Não sei se crio minhas músicas. Talvez seja muita pretensão dizer isso. Elas já saem prontas de dentro de mim. E se eu apenas fizesse uma canção de punho próprio seria tão fácil e tão artificial. É por isso que não ouso modificar o que eu arranco de dentro de mim. Tenho certeza, assim, que elas irão aos ouvidos para as quais foram feitas. E não importa se eu sofro para arrancá-la de mim e caio em lágrimas. Ou se fico horas tentando trazê-la à vida. O que importa é que elas saem como são, e não como inventam.
Se um dia, por acaso, eu não tiver letras o suficiente para tirá-las de mim, guardarei à sete chaves cada verso quase pronto. Colocarei no bolso o papel e as palavras. E um dia, caso elas queiram sair, não saírão pela minha boca, e sim pelo meu coração.
Nota: Quando você, leitor, estiver ouvindo uma canção feita com o coração, não pense que foi completamente simples e fácil colocá-la ali, para ser ouvida. É um processo díficil e sincero. Um processo incrível. Mas não confunda com as pessoas que fazem música para ganhar dinheiro e criam versos falsos. Essas músicas são fáceis e não lhes roubam nenhuma lágrima sequer. Logo, não existe música dentro deles.
o resumo
Cada dia é o resumo da vida
De uma vida inteira
Acordamos e nascemos
Saímos para o mundo ao pôr os pés fora de casa
E quando deitamos
Esperamos cansados
Já sabendo que uma hora ou outra
Morreremos mais uma vez
Ao adormecer
De uma vida inteira
Acordamos e nascemos
Saímos para o mundo ao pôr os pés fora de casa
E quando deitamos
Esperamos cansados
Já sabendo que uma hora ou outra
Morreremos mais uma vez
Ao adormecer
o ovo e a galinha
Deixem de lado o lado da linha
Não me importa ao certo quem veio primeiro
Se foi o ovo, quando não existia
Ou se já era dia, e nasceu a galinha
Porque não se perguntam, antes
Quem veio primeiro:
O burro ou a burrice?
Não me importa ao certo quem veio primeiro
Se foi o ovo, quando não existia
Ou se já era dia, e nasceu a galinha
Porque não se perguntam, antes
Quem veio primeiro:
O burro ou a burrice?
o labirinto
As estradas de dentro dela escondiam um grande segredo. Eu nunca quis desvendá-lo, é claro. Segredos foram feitos para serem secretos para sempre. O labirinto de dentro dela me parecia eternamente infinito. À cada passo uma nova sensação. Flores cresciam de todas as partes, e me vinham à boca como notas musicais perdidas entre tanto mistério. Avisos colados por paredes aleatórias alertavam sobre os possíveis perigos que eu precisaria enfrentar. Não pensei em voltar, até porque, em um labirinto, voltar significa estar perdido do mesmo jeito. Os tijolos eram de cores gritantes, e isso me encantava passo à dentro. Eles, de certa forma, iam me dizendo o caminho final. Eu sentia o cheiro da resposta, embora soubesse que nem sempre a resposta é realmente verdadeira. Mas a sensação me prendia, era indescritivel. Todas as borboletas da flor que crecia no meu nariz juntavam-se em minha barriga. Eu sentia que chegava perto de um final. E por fim tive de enganar uns seres horrorosos com migalhas de pão. Quando abri, finalmente, a porta de saída, descobri que toda a vida da menina se fazia dentro do labirinto. Afinal, um mistério não se foi feito para descobrir, e sim para nos encharcar de dúvidas à cada passo desvendado.
o coração
- Você tem coração?
- Eu não sei.
- Ué, você não está vivo? Tem de ter um...
- Aquilo não é coração.
- O que é um coração então?
- Um rabisco mal feito num papel.
- Eu não sei.
- Ué, você não está vivo? Tem de ter um...
- Aquilo não é coração.
- O que é um coração então?
- Um rabisco mal feito num papel.
o barquinho de papel
Construí um barco à vela
E soltei no oceano
Era de papel em branco
Mas pintei de azul do céu
Ora, que barco teimoso
Desmanchou em pleno mar
Se fosse um barco não à vela
Dúvido que fosse apagar
E soltei no oceano
Era de papel em branco
Mas pintei de azul do céu
Ora, que barco teimoso
Desmanchou em pleno mar
Se fosse um barco não à vela
Dúvido que fosse apagar
dos olhos
Porque temos dois olhos se usamos apenas um? Mesmo querendo, não conseguimos olhar para uma flor e um vagalume ao mesmo tempo. Ou me escapa o voo, ou me escapa o detalhe da pétala. Não fosse assim, não teriamos sensações, e sim, retratos.
Prefira uma sensação aos olhos, do que duas imagens à vista.
Prefira uma sensação aos olhos, do que duas imagens à vista.
dormir para dentro
Foi quando, em uma manhã de domingo eu acordei dentro de mim mesmo. Era tarde do dia anterior quando eu decidi ir para a cama. Antes de adormecer eu passei uns minutos à olhar o céu pela janela, já que a lua minguava para dentro do meu quarto em fatias um tanto grandes. Falei uma meia-dúzia de bobagens para a lua antes de pegar no sono. Na verdade eu estava refletindo sobre algumas novas partes do meu romance sem fim. Eu estou escrevendo ele há muito tempo. Desde que nasci, para ser mais honesto.
Depois de algum tempo eu não me aguentei e caí no sono. Não lembro de quase nada daquela noite, mas sei que eu dormi para dentro. E acordei dentro de mim. Primeiro, a surpresa. Depois, o medo. E por último, eu. Era o lugar mais estranho e misterioso que eu já havia pisado. Se é que eu estava pisando em mim mesmo. Diziam que sonhar era dormir para dentro. "Será que isso é um sonho?" Eu me perguntava, sem saber que não existia resposta para um fato tão absurdo. Coloquei-me à agir e, depois de alguns passos, cheguei em um lugar cheio de palavras soltas. Tive certeza que era o meu pensamento. Ele era um chafariz gigante de palavras e mais palavras. Até arrisquei um pequeno sorriso ao perceber aquilo, afinal, eu sempre tive alguma certeza de quê as palavras me eram a vida.
Sentei em um canto qualquer e fiquei observando tudo, e não entendendo absolutamente nada. As pessoas dizem que se conhecem e que sabem melhor do que ninguém quem elas são. Eu não posso acreditar nisso. Talvez um dia elas possam dormir para dentro, como eu, e perceber o mistério da vida. Quando eu me preparava para seguir essa infinita viagem, um sol atravessou o céu que estava sob os meus pés e dormiu pelo horizonte. Sentei novamente e fiquei olhando ele se pôr lentamente. Só tive coragem de olhar para o fim quando ele já tinha ido embora. Não encontrei nenhum lugar para onde o sol pudesse ter ido. Nem uma caixinha sequer. Revirei os bolsos. Os meus olhos. E quando, sem nenhuma esperança, eu olhei para dentro de mim, o sol estava lá.
Eu estava quase querendo acordar de tanto mistério. Mas eu estava finalmente percebendo tudo. Eu tinha dormido para dentro, e isso é completamente raro nos dias de hoje. Parei. Olhei para todos os lados, mais uma vez, respirei fundo e olhei para cima. Haviam nuvens da minha imaginação. Formas, traços, desenhos. Essa era a minha imaginação. Era dali que vinham minhas idéias mais incríveis. Realmente eu era uma pessoa de sorte. Ou quem sabe, uma pessoa pensante. Acho que só as pessoas que vivem à pensar sobre a vida podem dormir para dentro.
Acordei no outro dia radiante. Abri a janela, e o mesmo céu que refletia a lua na noite passada, agora levantava um sol animador. Até aquele dia eu nunca havia encontrado algum mistério maior do quê o lugar em que vivo. O universo sempre me intrigara desde que comecei à pensar sobre tudo que está em minha volta. Mas só depois daquela tal manhã eu consegui olhar para dentro de mim e ver, como nunca, que era eu o mistério maior para mim.
Depois de algum tempo eu não me aguentei e caí no sono. Não lembro de quase nada daquela noite, mas sei que eu dormi para dentro. E acordei dentro de mim. Primeiro, a surpresa. Depois, o medo. E por último, eu. Era o lugar mais estranho e misterioso que eu já havia pisado. Se é que eu estava pisando em mim mesmo. Diziam que sonhar era dormir para dentro. "Será que isso é um sonho?" Eu me perguntava, sem saber que não existia resposta para um fato tão absurdo. Coloquei-me à agir e, depois de alguns passos, cheguei em um lugar cheio de palavras soltas. Tive certeza que era o meu pensamento. Ele era um chafariz gigante de palavras e mais palavras. Até arrisquei um pequeno sorriso ao perceber aquilo, afinal, eu sempre tive alguma certeza de quê as palavras me eram a vida.
Sentei em um canto qualquer e fiquei observando tudo, e não entendendo absolutamente nada. As pessoas dizem que se conhecem e que sabem melhor do que ninguém quem elas são. Eu não posso acreditar nisso. Talvez um dia elas possam dormir para dentro, como eu, e perceber o mistério da vida. Quando eu me preparava para seguir essa infinita viagem, um sol atravessou o céu que estava sob os meus pés e dormiu pelo horizonte. Sentei novamente e fiquei olhando ele se pôr lentamente. Só tive coragem de olhar para o fim quando ele já tinha ido embora. Não encontrei nenhum lugar para onde o sol pudesse ter ido. Nem uma caixinha sequer. Revirei os bolsos. Os meus olhos. E quando, sem nenhuma esperança, eu olhei para dentro de mim, o sol estava lá.
Eu estava quase querendo acordar de tanto mistério. Mas eu estava finalmente percebendo tudo. Eu tinha dormido para dentro, e isso é completamente raro nos dias de hoje. Parei. Olhei para todos os lados, mais uma vez, respirei fundo e olhei para cima. Haviam nuvens da minha imaginação. Formas, traços, desenhos. Essa era a minha imaginação. Era dali que vinham minhas idéias mais incríveis. Realmente eu era uma pessoa de sorte. Ou quem sabe, uma pessoa pensante. Acho que só as pessoas que vivem à pensar sobre a vida podem dormir para dentro.
Acordei no outro dia radiante. Abri a janela, e o mesmo céu que refletia a lua na noite passada, agora levantava um sol animador. Até aquele dia eu nunca havia encontrado algum mistério maior do quê o lugar em que vivo. O universo sempre me intrigara desde que comecei à pensar sobre tudo que está em minha volta. Mas só depois daquela tal manhã eu consegui olhar para dentro de mim e ver, como nunca, que era eu o mistério maior para mim.
do espaço
Alguém tratou de me soltar as amarras. Estou no espaço. Sozinho. Não consigo sentir os meus pés em terra firme em nenhum momento. Talvez seja isso que me tira o sono. E que, à cada entardecer, me faz assoprar poesias pelo ar. Elas voam conduzidas por palavras, como as bolhas de sabão, que eu faço do alto da vida, se conduzem por sorrisos.
Quem sabe algum dia eu ainda esbarre com outro ser que fora solto pelas amarras e pôde ir além do planeta agua. Alguém que, como eu, vive feliz e triste, tudo ao mesmo tempo. Um outro ser que também viva longe dos outros seres. Que esteja solto por entre todos os mistérios do universo. E, principalmente, que nunca se acomode. É só assim que conseguimos escrever, quando não temos mais chão, ou alguma superfície limitada. Talvez por isso eu não esbarre com ninguém, as pessoas não querem ser soltas pelas amarras. Não querem tirar o pé do chão e, muito menos, ultrapassar a velocidade da luz.
Nas bordas do meu pensamento vive alguém tão livre quanto eu. É a menina de todos os meus poemas. Posso não encontrá-la em palavras. Mas tenho certeza que ela nunca irá preferir se amarrar novamente à terra. As borboletas estão muito além de nossos olhos. E ela, muito além do ser humano.
Quem sabe algum dia eu ainda esbarre com outro ser que fora solto pelas amarras e pôde ir além do planeta agua. Alguém que, como eu, vive feliz e triste, tudo ao mesmo tempo. Um outro ser que também viva longe dos outros seres. Que esteja solto por entre todos os mistérios do universo. E, principalmente, que nunca se acomode. É só assim que conseguimos escrever, quando não temos mais chão, ou alguma superfície limitada. Talvez por isso eu não esbarre com ninguém, as pessoas não querem ser soltas pelas amarras. Não querem tirar o pé do chão e, muito menos, ultrapassar a velocidade da luz.
Nas bordas do meu pensamento vive alguém tão livre quanto eu. É a menina de todos os meus poemas. Posso não encontrá-la em palavras. Mas tenho certeza que ela nunca irá preferir se amarrar novamente à terra. As borboletas estão muito além de nossos olhos. E ela, muito além do ser humano.
de ponta cabeça
A trilha sonora era de quase chuva. O céu parecia querer chover eu mesmo, por todos os cantos. A protagonista tinha um brilho nos olhos por flores, tanto que lhes nasciam na ponta do nariz todas as manhãs. Ela cuidava, para que a chuva não as afogassem de tanto não chover. Fazia cores misturando sensações intensas para colorir, pétala por pétala, ao pé da letra, todas as cores que um céu pode borrar. São tantas. São tantas essas cores, que ela guadava todas na poesia mais indecifrável que um papel veria.
Não muito longe dali, uma mistura de sensações, cores, sons e descobertas se juntavam em um ser, que seria laranja acinzentado. Na luneta ele descobria a si próprio: "Um lunático! Um lunático!". As almas começavam então à se encontrar, principalmente em luares sustenidos, de uma gigante bolha de sabão.
Ele dava presentes à ela. Ela era o presente dele.
Não muito longe dali, uma mistura de sensações, cores, sons e descobertas se juntavam em um ser, que seria laranja acinzentado. Na luneta ele descobria a si próprio: "Um lunático! Um lunático!". As almas começavam então à se encontrar, principalmente em luares sustenidos, de uma gigante bolha de sabão.
Ele dava presentes à ela. Ela era o presente dele.
as invenções
As coisas não são inventadas. Elas forçam existir dentro da gente, até serem arrancadas de dentro. Ficam se mexendo dia e noite, sem parar, até escaparem e existirem, de uma forma ou de outra. Elas brotam. Igual uma flor quando a primavera é obrigada à floresce-las.
as estrelas cadentes
- Porque as estrelas cadentes são tão raras?
- Você já experimentou cantar para uma estrela?
- Não, o que acontece?
- (Silêncio)
(Dia seguinte)
- Cantou?
- Sim.
- E então?
- Ela virou uma incrivel estrela cadente!
- É por isso que elas são tão raras. As pessoas não têm tempo para cantar para as estrelas.
- Então uma estrela cadente é quando...
- Sim...
- Alguem...
- Sim...
- Ama?
- (Silêncio)
- Você já experimentou cantar para uma estrela?
- Não, o que acontece?
- (Silêncio)
(Dia seguinte)
- Cantou?
- Sim.
- E então?
- Ela virou uma incrivel estrela cadente!
- É por isso que elas são tão raras. As pessoas não têm tempo para cantar para as estrelas.
- Então uma estrela cadente é quando...
- Sim...
- Alguem...
- Sim...
- Ama?
- (Silêncio)
aprendiz
Quando alguém pode considerar-se poeta?
Quando cai um prato
E em vez de sair um fato
Sai um poema?
Quando cai um prato
E em vez de sair um fato
Sai um poema?
para a menina invisível, com carinho
Era um grande segredo que eu guardava. Nunca soube explicar exatamente qual era o segredo. As vezes eu me pegava perguntando à mim mesmo sobre o tal assunto secreto. Um segredo é feito, basicamente, de respostas. E nem perguntas eu tinha.
Na verdade, eu desconfio profundamente que era acerca da vida toda a minha dúvida. Dúvida que, antes mesmo de se fazer segredo, não era compartilhado com outras pessoas. Eu nunca confiei nelas o bastante para isso. Nunca confiei em mim mesmo para isso.
Eu não sabia porque não tinha amigos, e porque não fazia questão de tê-los. Não imaginava o motivo maior no meu receio em falar sobre amor. Ficava observando abismado de cima do muro da vida o vai-e-vem de pessoas mecânicas. Tão mecânicas que nem os robôs se comparavam à elas. Os robôs ainda falham por vontade própria. E os seres incontáveis que via, nem isso faziam por decisão.
Eu sempre soube do mistério da vida. Do incrível momento em que uma flor tomba da arvore porque o outono começa a chorar. Nunca ousei trocar um gramado cheirando à terra molhada por notícias que os jornalistas costumam prender na televisão.
Gostaria de apagar uma boa parte dessas gravatas amarrotadas que os fazem e pintar-lhes o rosto. Muito mais interessante seria um sarau. Um grande momento em que folhas caem sem tocar o chão. Em que as flores dançam com o vento por entre as palavras. O tão esperado momento em que os poetas retratariam o meu abraço mais apertado em um arbusto recém-nascido. Ou quando a borboleta colorida ganha vida e deixa o seu casulo. Gostaria tanto.
Era quase noite quando eu, em um puro momento de distração, encontrei os tantos bilhetes deixados embaixo da minha porta. Confesso que não era exatamente de madeira ou vidro essa minha entrada principal. Era feita de tanta coisa que eu nunca saberei lhes dizer. Mas fica dentro de mim. É uma porta ao lado direito do peito. Foram lá deixados os tantos bilhetes.
Uns falavam de mim. Outros falavam dela. Mas a maioria diziam-me versos. Eu juntava cada um deles como se fossem preces. E aos poucos eu fui descobrindo o meu segredo perdido. As palavras me batiam de frente. Assopravam meus olhos até secarem. Fui obrigado à chorar para mantê-los vivos. E, obrigado ou não, tive a certeza de mim mesmo. Eu estava me encontrando completamente. Encontrei a menina invisível de todos os meus poemas. O amor que eu nunca tive coragem para ficar escrevendo por aí. A certeza de uma parte de mim colocado ao mundo no mesmo instante em que eu vim à ele. E, principalmente, o abraço de amigo que nunca senti por falta de sinceridade.
Eu sei que estou perdido. Sinto isso. Não me conheço. Sou um mistério para mim. Mas por falta de uma mão entrelaçada às minhas contemplando o pôr-do-sol em silêncio, eu chorei. E nos bilhetes, todas as nuvens que borraram no céu enquanto eu desenhava, eu encontrei. Costurei na minha parede as partes de mim encontrada. Esperando, é claro, que um dia a menina invisivel me apareça.
Na verdade, eu desconfio profundamente que era acerca da vida toda a minha dúvida. Dúvida que, antes mesmo de se fazer segredo, não era compartilhado com outras pessoas. Eu nunca confiei nelas o bastante para isso. Nunca confiei em mim mesmo para isso.
Eu não sabia porque não tinha amigos, e porque não fazia questão de tê-los. Não imaginava o motivo maior no meu receio em falar sobre amor. Ficava observando abismado de cima do muro da vida o vai-e-vem de pessoas mecânicas. Tão mecânicas que nem os robôs se comparavam à elas. Os robôs ainda falham por vontade própria. E os seres incontáveis que via, nem isso faziam por decisão.
Eu sempre soube do mistério da vida. Do incrível momento em que uma flor tomba da arvore porque o outono começa a chorar. Nunca ousei trocar um gramado cheirando à terra molhada por notícias que os jornalistas costumam prender na televisão.
Gostaria de apagar uma boa parte dessas gravatas amarrotadas que os fazem e pintar-lhes o rosto. Muito mais interessante seria um sarau. Um grande momento em que folhas caem sem tocar o chão. Em que as flores dançam com o vento por entre as palavras. O tão esperado momento em que os poetas retratariam o meu abraço mais apertado em um arbusto recém-nascido. Ou quando a borboleta colorida ganha vida e deixa o seu casulo. Gostaria tanto.
Era quase noite quando eu, em um puro momento de distração, encontrei os tantos bilhetes deixados embaixo da minha porta. Confesso que não era exatamente de madeira ou vidro essa minha entrada principal. Era feita de tanta coisa que eu nunca saberei lhes dizer. Mas fica dentro de mim. É uma porta ao lado direito do peito. Foram lá deixados os tantos bilhetes.
Uns falavam de mim. Outros falavam dela. Mas a maioria diziam-me versos. Eu juntava cada um deles como se fossem preces. E aos poucos eu fui descobrindo o meu segredo perdido. As palavras me batiam de frente. Assopravam meus olhos até secarem. Fui obrigado à chorar para mantê-los vivos. E, obrigado ou não, tive a certeza de mim mesmo. Eu estava me encontrando completamente. Encontrei a menina invisível de todos os meus poemas. O amor que eu nunca tive coragem para ficar escrevendo por aí. A certeza de uma parte de mim colocado ao mundo no mesmo instante em que eu vim à ele. E, principalmente, o abraço de amigo que nunca senti por falta de sinceridade.
Eu sei que estou perdido. Sinto isso. Não me conheço. Sou um mistério para mim. Mas por falta de uma mão entrelaçada às minhas contemplando o pôr-do-sol em silêncio, eu chorei. E nos bilhetes, todas as nuvens que borraram no céu enquanto eu desenhava, eu encontrei. Costurei na minha parede as partes de mim encontrada. Esperando, é claro, que um dia a menina invisivel me apareça.
a menina dos olhos brilhantes
A menina de olhos brilhantes apareceu pela primeira vez na minha vida quando, em uma tarde de inverno, eu a vi pintando flores no chão. Chovia tanto naquele dia que as flores borravam até sumir. Quanto mais as flores se iam, mais a menina tinha o brilho nos olhos. Eu me aproximei e pedi à ela uma flor. Ela levantou. Me olhou com todos os seus olhares e pintou com o dedo uma flor bem no meio do meu rosto. A flor ganhou vida quando ela deu o ultimo traço. Ela crescia sem parar para dentro de mim. Fez algumas voltas ao lado do meu coração e apareceu no meu nariz. A menina me olhou e sorriu. Ela olhava para mim como se eu fosse a própria flor que ela deu-lhe a vida. Como se eu tivesse vivido apartir de um traço mágico. Como se eu estivesse prestes à borrar e sumir. Como se a menina fizesse parte da minha vida daquele dia em diante.
Da ultima vez em que vi a menina de olhos brilhantes, já era tarde. Olhei para o meu nariz e descobri: eu era a flor.
Da ultima vez em que vi a menina de olhos brilhantes, já era tarde. Olhei para o meu nariz e descobri: eu era a flor.
a joaninha e o poema
A joaninha acordou, colocou suas bolhinhas de sabão pretas e vermelhas nas costas e saiu voando como sempre fazia. De olhos fechados, seguiu o vento até esbarrar em alguma superfície. As vezes, tinha sorte e encontrava uma outra bolhinha de sabão, dessa vez soprada por uma criança, e pegava carona com a tal bolhinha até estourar no ar e sumir. Outras vezes pairava em algum chapéu empoeirado e decorado com uma pena colorida, e esperava até sentir-se segura para voar novamente.
Era outono, e as pessoas estavam desenhando como nunca. Não demorou muito e a joaninha, cansada de flutuar, pousou em um desses desenhos. Era uma linda aquarela, pintada por uma menina de cabelos cacheados. Na borda haviam dois passarinhos que conversavam por entre nuvens. E nas nuvens, folhas caiam sem parar. Afinal, era outono. Havia também uma menina invisível de cabelos amarelos. Provavelmente a pequena moçinha solitária que fez a arte ganhar vida queria se desenhar. E foi ali que a joaninha ficou por um bom tempo, mas o vento que borrava as nuvens e fazia os passarinhos voarem, era muito forte para a pequena joaninha e ela teve de partir mais uma vez.
Foi então que, depois de muito tempo, ela caiu do alto bem encima de algumas palavras. Não eram palavras normais, dessas que a gente escuta por aí e fica triste no mesmo instante. Eram radiantes como o pôr-do-sol e serenas como a noite vista de cima. Era um poema. Eram versinhos escritos à mão. E alí ficou a joaninha, para sempre. Pois tudo que ela precisava estava em versos no poema. E dali, o vento só a tirava para dançar.
Era outono, e as pessoas estavam desenhando como nunca. Não demorou muito e a joaninha, cansada de flutuar, pousou em um desses desenhos. Era uma linda aquarela, pintada por uma menina de cabelos cacheados. Na borda haviam dois passarinhos que conversavam por entre nuvens. E nas nuvens, folhas caiam sem parar. Afinal, era outono. Havia também uma menina invisível de cabelos amarelos. Provavelmente a pequena moçinha solitária que fez a arte ganhar vida queria se desenhar. E foi ali que a joaninha ficou por um bom tempo, mas o vento que borrava as nuvens e fazia os passarinhos voarem, era muito forte para a pequena joaninha e ela teve de partir mais uma vez.
Foi então que, depois de muito tempo, ela caiu do alto bem encima de algumas palavras. Não eram palavras normais, dessas que a gente escuta por aí e fica triste no mesmo instante. Eram radiantes como o pôr-do-sol e serenas como a noite vista de cima. Era um poema. Eram versinhos escritos à mão. E alí ficou a joaninha, para sempre. Pois tudo que ela precisava estava em versos no poema. E dali, o vento só a tirava para dançar.
a galinha e a senhora
A mesma mão que apanha o controle remoto para ligar a televisão, é usada para a morte. Seus olhos não ousam descolar do noticiário. A cada duas palavras, cinco mortes. De tão falso, ela finge um choro quase verdadeiro. Procura por todos os cantos do seu deserto interior, algum lugar úmido. Será que alguém assim não pode chorar?
O coração está seco desde que completara 15 anos. Foi nesse dia que conheceu o único amor de sua vida. E que o perdeu, também. O pedido que ela fez, em vez de um chapéu decorado com uma pena colorida, foi crescer. Logo, perdeu todas as cores que existiam dentro dela. Secaram. Os olhos, que brilhavam como diamantes, ficaram tristes até o dia de sua morte, que ainda nem havia acontecido. Não existia vida dentro dela.
Depois de uma busca incansável, a senhora que assistia televisão disistiu de chorar. Não havia jeito. Ela estava despencando aos poucos da arvore mais alta que existe. Era uma folha seca. E perigava tombar antes mesmo do outono chegar.
Desligou a televisão e foi preparar o almoço. Era a hora de todos os moradores do campo irem resgatar o ensopado do meio-dia. A velha senhora escolheu a galinha mais apetitosa de toda a fazenda e agarrou-a, firme, com as mesmas mãos que seguravam o controle remoto. Com as mesmas duas mãos que puxavam as lágrimas inexistentes das poucas nuvens que ainda haviam dentro dela. Achou melhor, depois de uma idéia não muito racional, cometer o assassinato na sua própria casa. No fundo ela morria de vergonha por praticar o crime na frente de tantas pessoas como ela. No fundo, onde ela estava para tombar, sentia-se o pior dos seres. Sentia-se como todos os outros criminosos que acabara de ver na televisão. Achava que isso diminuiria a culpa. E qual é a diferença de uma galinha para um ser humano?
Chegou em casa. Sentou na poltrona mais confortável e começou a chorar. Há anos ela não conseguia chorar. Era o susto junto com a necessidade. Olhou nos olhos da pobre galinha, que já não acreditava na vida, e pôde se ver por dentro. Viu o medo. O ódio. Viu a falta de vida. E, principalmente, a morte.
Antes de tombar, a folha seca, que cavara tanto o coração que achara um pouco de água, deciciu cometer o maior dos crimes. Esperou a noite cair por entre os campos e saiu pronta para o ultimo de todos os crimes que ela iria cometer na vida. Chegou na fazenda, onde os seres penados a olhavam com medo e com pena. Ela, em um ato de coragem e esperança colocou todas as galinhas dentro de seu carro quase sem cor, como ela, e fugiu para bem longe. Se alojou em uma nova cidade, e tratou as galinhas como se fossem parte dela própria. Colocou na cabeça que as deixaria morrer por natureza. Sem crimes. Sem armas. Sem mãos.
Ela sabia que não poderia, com esse ato, salvar todos os seres que são mortos sem razão nenhuma. Mas ela podia se salvar. Ela podia, com um pouco de água e cor, construir um bonito bosque encantado com flores e muita vida dentro dela.
O coração está seco desde que completara 15 anos. Foi nesse dia que conheceu o único amor de sua vida. E que o perdeu, também. O pedido que ela fez, em vez de um chapéu decorado com uma pena colorida, foi crescer. Logo, perdeu todas as cores que existiam dentro dela. Secaram. Os olhos, que brilhavam como diamantes, ficaram tristes até o dia de sua morte, que ainda nem havia acontecido. Não existia vida dentro dela.
Depois de uma busca incansável, a senhora que assistia televisão disistiu de chorar. Não havia jeito. Ela estava despencando aos poucos da arvore mais alta que existe. Era uma folha seca. E perigava tombar antes mesmo do outono chegar.
Desligou a televisão e foi preparar o almoço. Era a hora de todos os moradores do campo irem resgatar o ensopado do meio-dia. A velha senhora escolheu a galinha mais apetitosa de toda a fazenda e agarrou-a, firme, com as mesmas mãos que seguravam o controle remoto. Com as mesmas duas mãos que puxavam as lágrimas inexistentes das poucas nuvens que ainda haviam dentro dela. Achou melhor, depois de uma idéia não muito racional, cometer o assassinato na sua própria casa. No fundo ela morria de vergonha por praticar o crime na frente de tantas pessoas como ela. No fundo, onde ela estava para tombar, sentia-se o pior dos seres. Sentia-se como todos os outros criminosos que acabara de ver na televisão. Achava que isso diminuiria a culpa. E qual é a diferença de uma galinha para um ser humano?
Chegou em casa. Sentou na poltrona mais confortável e começou a chorar. Há anos ela não conseguia chorar. Era o susto junto com a necessidade. Olhou nos olhos da pobre galinha, que já não acreditava na vida, e pôde se ver por dentro. Viu o medo. O ódio. Viu a falta de vida. E, principalmente, a morte.
Antes de tombar, a folha seca, que cavara tanto o coração que achara um pouco de água, deciciu cometer o maior dos crimes. Esperou a noite cair por entre os campos e saiu pronta para o ultimo de todos os crimes que ela iria cometer na vida. Chegou na fazenda, onde os seres penados a olhavam com medo e com pena. Ela, em um ato de coragem e esperança colocou todas as galinhas dentro de seu carro quase sem cor, como ela, e fugiu para bem longe. Se alojou em uma nova cidade, e tratou as galinhas como se fossem parte dela própria. Colocou na cabeça que as deixaria morrer por natureza. Sem crimes. Sem armas. Sem mãos.
Ela sabia que não poderia, com esse ato, salvar todos os seres que são mortos sem razão nenhuma. Mas ela podia se salvar. Ela podia, com um pouco de água e cor, construir um bonito bosque encantado com flores e muita vida dentro dela.
não é apenas uma cartola
Todos os dias o menino levantava e colocava a sua cartola na cabeça. Nunca saía de casa sem ela. E de tanto afeto que tinha por sua companheira, nunca ninguém quis lhe perguntar o motivo. Para os adultos, as coisas sempre tem que ter um motivo.
Certo dia, enquanto o menino meio mágico e meio autista andava pela cidade, esbarrou com uma menina. Trocaram alguns olhares. Mas a pequena senhorinha de batom vermelho perdeu os seus olhos frente ao menino sonhador. Ele abaixou-se, e juntou o olhar da menina. Entregou-a os olhinhos e saiu depressa, tropeçando nos seus próprios passos.
Ela começou à segui-lo sem importar-se com o lugar onde chegariam. Ele, pensando estar só, sentou em um banco e começou à observar o sol se pôr por entre a cidade. A cartola do menino voou com o vento e foi parar nas mãos da menina. Ela andou até ele, e devolveu com um sorriso no canto da boca.
- Porquê você nunca tira a cartola?
- Não é apenas uma cartola.
- O que você guarda dentro dela?
- O mundo que eu construí na minha imaginação. Ele não pode ser visto pelas pessoas ou perderá toda a graça.
- Mas a graça está em você.
- E na cartola.
Certo dia, enquanto o menino meio mágico e meio autista andava pela cidade, esbarrou com uma menina. Trocaram alguns olhares. Mas a pequena senhorinha de batom vermelho perdeu os seus olhos frente ao menino sonhador. Ele abaixou-se, e juntou o olhar da menina. Entregou-a os olhinhos e saiu depressa, tropeçando nos seus próprios passos.
Ela começou à segui-lo sem importar-se com o lugar onde chegariam. Ele, pensando estar só, sentou em um banco e começou à observar o sol se pôr por entre a cidade. A cartola do menino voou com o vento e foi parar nas mãos da menina. Ela andou até ele, e devolveu com um sorriso no canto da boca.
- Porquê você nunca tira a cartola?
- Não é apenas uma cartola.
- O que você guarda dentro dela?
- O mundo que eu construí na minha imaginação. Ele não pode ser visto pelas pessoas ou perderá toda a graça.
- Mas a graça está em você.
- E na cartola.
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