A joaninha acordou, colocou suas bolhinhas de sabão pretas e vermelhas nas costas e saiu voando como sempre fazia. De olhos fechados, seguiu o vento até esbarrar em alguma superfície. As vezes, tinha sorte e encontrava uma outra bolhinha de sabão, dessa vez soprada por uma criança, e pegava carona com a tal bolhinha até estourar no ar e sumir. Outras vezes pairava em algum chapéu empoeirado e decorado com uma pena colorida, e esperava até sentir-se segura para voar novamente.
Era outono, e as pessoas estavam desenhando como nunca. Não demorou muito e a joaninha, cansada de flutuar, pousou em um desses desenhos. Era uma linda aquarela, pintada por uma menina de cabelos cacheados. Na borda haviam dois passarinhos que conversavam por entre nuvens. E nas nuvens, folhas caiam sem parar. Afinal, era outono. Havia também uma menina invisível de cabelos amarelos. Provavelmente a pequena moçinha solitária que fez a arte ganhar vida queria se desenhar. E foi ali que a joaninha ficou por um bom tempo, mas o vento que borrava as nuvens e fazia os passarinhos voarem, era muito forte para a pequena joaninha e ela teve de partir mais uma vez.
Foi então que, depois de muito tempo, ela caiu do alto bem encima de algumas palavras. Não eram palavras normais, dessas que a gente escuta por aí e fica triste no mesmo instante. Eram radiantes como o pôr-do-sol e serenas como a noite vista de cima. Era um poema. Eram versinhos escritos à mão. E alí ficou a joaninha, para sempre. Pois tudo que ela precisava estava em versos no poema. E dali, o vento só a tirava para dançar.
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