Todos os dias o menino levantava e colocava a sua cartola na cabeça. Nunca saía de casa sem ela. E de tanto afeto que tinha por sua companheira, nunca ninguém quis lhe perguntar o motivo. Para os adultos, as coisas sempre tem que ter um motivo.
Certo dia, enquanto o menino meio mágico e meio autista andava pela cidade, esbarrou com uma menina. Trocaram alguns olhares. Mas a pequena senhorinha de batom vermelho perdeu os seus olhos frente ao menino sonhador. Ele abaixou-se, e juntou o olhar da menina. Entregou-a os olhinhos e saiu depressa, tropeçando nos seus próprios passos.
Ela começou à segui-lo sem importar-se com o lugar onde chegariam. Ele, pensando estar só, sentou em um banco e começou à observar o sol se pôr por entre a cidade. A cartola do menino voou com o vento e foi parar nas mãos da menina. Ela andou até ele, e devolveu com um sorriso no canto da boca.
- Porquê você nunca tira a cartola?
- Não é apenas uma cartola.
- O que você guarda dentro dela?
- O mundo que eu construí na minha imaginação. Ele não pode ser visto pelas pessoas ou perderá toda a graça.
- Mas a graça está em você.
- E na cartola.
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