quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

o mundo de sabão

  Da luneta que havia no meu quarto, eu observava tudo ao meu redor. Do outro lado da rua, bem em frente à minha casa, havia um outro planeta. Ele parecia deserto e habitado por alguem muito sereno. O mais estranho desse planeta, é que vez por outra ele brilhava em tons de verde-azul, vermelho-laranja. Eu ficava caducando em idéias, e logo me deitava no jardim para tentar descobrir o mistério do planeta vizinho. Eu confesso que isso não era uma coisa muito fácil de se pensar.
  No dia seguinte lá estava eu novamente, com os olhos na luneta, à olhar para o outro lado da rua. Eu consegui ver, finalmente, movimento nesse tal planeta. Eu a vi, no mesmo instante que eu, espiando o lado de cá do nosso asfalto de estrelas. Ela levou um susto e se escondeu atrás dos arbustos de aquarela que ela havia decorado o quintal. Ficamos alí, observando o mundo do outro. Para mim, era intocável, porém acessivel o mundo da menina. Porém, para ela, o meu mundo era apenas admirável. E de muito longe. Eu realmente devo dizer que ela me agradou no exato momento em que descobriu que não poderia me invadir, nem fazer parte de mim.
  O relógio girou algumas centenas de vezes, e eu finalmente descobri. O mundo em que ela vivia poderia ser chamado do que fosse. Poderia nem ter nome, dependendo do tamanho. Ele poderia ser bonito e ter um jardim de papel. Mas ela, com toda a certeza, morava em uma bolha de sabão. Quem sabe ela não assoprou a bolha de sabão quando criança, e foi sugada para dentro da bolha? Talvez ela tenha caído para dentro, e nunca mais conseguiu escapar. Hoje eu apenas observo de longe o mundo da menina. Espero ansioso o dia em que eu possa lhe contar da minha descoberta. Talvez ela nem saiba onde vive, mas eu posso lhe dizer. Eu preciso avisá-la, antes que ela invente de plantar algumas flores na terra. Porque você sabe, não sabe? Quando nós vivemos em uma bolha de sabão, basta um descuido para que a bolha estoure. E para que nosso mundo desabe.

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