Os pássaros que vinham do sul pararam para descansar em alguns fios entre dois postes de luz. Quem olhasse veria apenas mais um bando corajoso, arriscando sua livre vida de passarinho, para descansar as asas depois de um dia inteiro atravessando o céu. Eu, quando voltava para casa, vi uma menina sentada no quarto degrau de uma velha escadaria da cidade. Ela mantinha os olhos fixos e brilhantes na direção das aves. No começo até pensei que ela estivesse se divertindo com as nuvens e inventando formas para cada uma. Mas o céu estava completamente azul. Não havia uma nuvem sequer naquela tarde. Intrigado, sentei ao lado da moça e perguntei para o quê ela estava olhando com tanta atenção. Olhou para mim, séria, e me fez um sinal para que eu ficasse em silêncio. Olhou novamente para os bichos e tornou a olhar para mim dizendo:
- Você está vendo aqueles dois postes de mãos dadas?
- Sim.
- Olhe os passarinhos que estão descansando nos braços deles.
- São muito bonitos.
- Agora olhe com poesia. Não diga nada. Só ouça. E perceba.
Fiquei alguns minutos olhando fixamente para o bando e comecei a ouvir uma linda melodia. Parecia com a flauta mágica de mozart, mas era um pouco mais suave e alegre. Um pouco depois os passarinhos começaram a se juntar. Começaram a formar um desenho. Eu não sabia de onde a música estava vindo. Até que o desenho se formou por completo. Descobri então de onde a melodia brotava com tanta perfeição. Olhei para a menina, que continuava com os olhos brilhantes, e perguntei o motivo de tudo aquilo que eu acabara de ver. E ela, abaixando um pouco o rosto, disse no meu ouvido:
- Basta ver as coisas com poesia. E só.
Para você que não tem coragem para tanto, observe o desenho e tente ver as coisas com outros olhos. Ou com os mesmo, mas com um pouco de poesia.
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