terça-feira, 19 de outubro de 2010

o som do coração

  Já escurecia quando eu decidi compor uma canção. Peguei o papel e a caneta e comecei os rabiscos. A música não queria sair. Teimava em ficar dentro de mim. Eu naveguei dentro de mim por muito tempo tentando traze-la ao mundo. É um pouco dificil, eu confesso, mas é a melhor forma de expressar um coração. Ela demorou, mas saiu, como eu bem queria fazer. Larguei o papel, a caneta e minha nova música composta. Fui até a rua, olhei para o céu e, como quem está prestes à partir, dei um suspiro consolador.
  Voltei ao meu posto, em prastos, e quis ouvir pela primeira vez aquela canção tão complicada de ser colocada ao mundo. Não sei se crio minhas músicas. Talvez seja muita pretensão dizer isso. Elas já saem prontas de dentro de mim. E se eu apenas fizesse uma canção de punho próprio seria tão fácil e tão artificial. É por isso que não ouso modificar o que eu arranco de dentro de mim. Tenho certeza, assim, que elas irão aos ouvidos para as quais foram feitas. E não importa se eu sofro para arrancá-la de mim e caio em lágrimas. Ou se fico horas tentando trazê-la à vida. O que importa é que elas saem como são, e não como inventam.
  Se um dia, por acaso, eu não tiver letras o suficiente para tirá-las de mim, guardarei à sete chaves cada verso quase pronto. Colocarei no bolso o papel e as palavras. E um dia, caso elas queiram sair, não saírão pela minha boca, e sim pelo meu coração.


Nota: Quando você, leitor, estiver ouvindo uma canção feita com o coração, não pense que foi completamente simples e fácil colocá-la ali, para ser ouvida. É um processo díficil e sincero. Um processo incrível. Mas não confunda com as pessoas que fazem música para ganhar dinheiro e criam versos falsos. Essas músicas são fáceis e não lhes roubam nenhuma lágrima sequer. Logo, não existe música dentro deles.

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