Foi quando, em uma manhã de domingo eu acordei dentro de mim mesmo. Era tarde do dia anterior quando eu decidi ir para a cama. Antes de adormecer eu passei uns minutos à olhar o céu pela janela, já que a lua minguava para dentro do meu quarto em fatias um tanto grandes. Falei uma meia-dúzia de bobagens para a lua antes de pegar no sono. Na verdade eu estava refletindo sobre algumas novas partes do meu romance sem fim. Eu estou escrevendo ele há muito tempo. Desde que nasci, para ser mais honesto.
Depois de algum tempo eu não me aguentei e caí no sono. Não lembro de quase nada daquela noite, mas sei que eu dormi para dentro. E acordei dentro de mim. Primeiro, a surpresa. Depois, o medo. E por último, eu. Era o lugar mais estranho e misterioso que eu já havia pisado. Se é que eu estava pisando em mim mesmo. Diziam que sonhar era dormir para dentro. "Será que isso é um sonho?" Eu me perguntava, sem saber que não existia resposta para um fato tão absurdo. Coloquei-me à agir e, depois de alguns passos, cheguei em um lugar cheio de palavras soltas. Tive certeza que era o meu pensamento. Ele era um chafariz gigante de palavras e mais palavras. Até arrisquei um pequeno sorriso ao perceber aquilo, afinal, eu sempre tive alguma certeza de quê as palavras me eram a vida.
Sentei em um canto qualquer e fiquei observando tudo, e não entendendo absolutamente nada. As pessoas dizem que se conhecem e que sabem melhor do que ninguém quem elas são. Eu não posso acreditar nisso. Talvez um dia elas possam dormir para dentro, como eu, e perceber o mistério da vida. Quando eu me preparava para seguir essa infinita viagem, um sol atravessou o céu que estava sob os meus pés e dormiu pelo horizonte. Sentei novamente e fiquei olhando ele se pôr lentamente. Só tive coragem de olhar para o fim quando ele já tinha ido embora. Não encontrei nenhum lugar para onde o sol pudesse ter ido. Nem uma caixinha sequer. Revirei os bolsos. Os meus olhos. E quando, sem nenhuma esperança, eu olhei para dentro de mim, o sol estava lá.
Eu estava quase querendo acordar de tanto mistério. Mas eu estava finalmente percebendo tudo. Eu tinha dormido para dentro, e isso é completamente raro nos dias de hoje. Parei. Olhei para todos os lados, mais uma vez, respirei fundo e olhei para cima. Haviam nuvens da minha imaginação. Formas, traços, desenhos. Essa era a minha imaginação. Era dali que vinham minhas idéias mais incríveis. Realmente eu era uma pessoa de sorte. Ou quem sabe, uma pessoa pensante. Acho que só as pessoas que vivem à pensar sobre a vida podem dormir para dentro.
Acordei no outro dia radiante. Abri a janela, e o mesmo céu que refletia a lua na noite passada, agora levantava um sol animador. Até aquele dia eu nunca havia encontrado algum mistério maior do quê o lugar em que vivo. O universo sempre me intrigara desde que comecei à pensar sobre tudo que está em minha volta. Mas só depois daquela tal manhã eu consegui olhar para dentro de mim e ver, como nunca, que era eu o mistério maior para mim.
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